quinta-feira, 6 de março de 2014

Poeta Jurássico, o poema não... - por Joaquim Moncks

POETA JURÁSSICO, O POEMA NÃO...

Joaquim Moncks

Quando o autor perde o trem da contemporaneidade, confirmando-se “dinossáurico” ou “jurássico”, dificilmente se habituará ao uso do ferramental cibernético. Tenho um poeta e filósofo muito caro ao meu coração, o Dércio Marchi, setenta e sete anos, quatro livros publicados, morador em Torres/RS, com quem vivo a caçoar com estas expressões jocosas de croniqueta de costumes, que não deixam de conter ácida conotação. Exerço, por ofício crítico, a instigação, no caso. A triste verdade é que, estar fora da virtualidade, hoje, é estar fora do mundo... Somente pude me achegar aos recursos internéticos em 2002, quatorze anos mais tarde do que poderia ter feito, apesar de haver tido disponibilidade de computador e rede a partir de 1988. O uso dos mecanismos da modernidade não necessariamente significa que a Poesia do autor-alvo se torne esteticamente de bom porte, vale dizer: capaz de ultrapassar o tempo de viver do protagonista, confirmando a sua identidade etimológica de “profeta”. Sempre digo que os parâmetros usuais não comportam a genialidade, como é o caso de Manoel de Barros, um dos ícones atuais da poesia brasileira. O lápis-grafite atribuível a Barros (segundo a mídia) como ferramenta usual para a escrita, já nasce digital, marcado no hoje para a posteridade. Reitero: as regras comuns não são aplicáveis aos gênios. O decurso temporal sempre faz bem ao autor e ao poema, todavia, o ferramental viceja a revelia da estética textual. Afinal, máquina não pensa de per si, apesar de que alguns espécimes façam importantes cálculos e resoluções assentados em dados de física quântica, e outros programas existentes na net “falem” com alguma desenvoltura vários idiomas. No entanto, a exótica codificação e o mutismo do poema é que vai lhe conceder a palavra a todo e qualquer tempo. Afinal, a peça poética nunca vomita a sua humilde condição de deserdada, porque – por natureza de nuvem, fantasia e invenção – é naturalmente excluída do mundo dos fatos e de suas realidades tangíveis. Algumas indeglutíveis...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

Joaquim Moncks, advogado, poeta, ativista cultural - Coordenador Executivo da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Nacional

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